Nos últimos meses, cada vez me
“conecto”, seja no Facebook, Whatsapp, Twitter, Instagran, Youtube, ou mesmo
acessando as diversas páginas e portais de notícias que leio diariamente, sinto
um comichão para opinar e manifestar-me partidariamente. Afinal sou um cidadão
politicamente bem definido e informado, e interessado nos rumos de nossa nação.
Contenho os dedos, respiro fundo e
sigo minhas leituras e postagens doutrinárias, missão que me direciona a esta
convivência digital.
Os ânimos estão acirrados! Existe um
clima de copa do mundo e cada um acredita que seu candidato é a seleção
brasileira. Torcem apaixonadamente e acreditam que o fulano escolhido é o
melhor para todos. Diante disso, como seria a reação de vocês, que acreditam em
mim, que leem tudo que escrevo, se eu manifestasse uma opinião diferente da
vocês?
Existem correntes diversas, duas
mais especificamente, onde irmãos de Doutrina se dividem por uma paixão
política de suas personalidades, distantes da nossa missão de vibrar apenas
para que o melhor aconteça para nossa nação.
Médiuns, que deveriam isentarem-se
publicamente, postam apoios claros a “A” ou “B”, e às vezes “C” também, gerando
conflitos entre irmãos que deveriam estar unidos em prol da missão espiritual.
Sei que esta postagem irá desagradar
a todos, e não apenas A ou B, caso me manifestasse, mas prefiro recordar das
lágrimas de Tia Neiva ao saber que um Adjunto inaugurava o primeiro comitê
político no Vale do Amanhecer. Não podemos nos afastar por tendências e/ou
paixões políticas, e mais ainda: devemos
recordar que nossas expressões públicas chegam aos olhos de nossos pacientes e,
ao direcionarmos nosso apoio a um candidato e seu grupo, nestes momentos
extremos, acabamos por afastar os outros, que passam a nos abominar pela
simples escolha.
Precisamos manter nossa moral! Que
apoiemos e cumpramos nosso dever de cidadãos votando e até mesmo
silenciosamente colaborando com alguém, mas sem, jamais, gerar antagonismos
entre nossos irmãos e principalmente rejeição de nossos pacientes. Talvez nosso
grande reajuste, ou grande amor, esteja “do outro lado” e deixemos a
oportunidade do reencontro por conta de afastá-lo em nossas desnecessárias
exposições.
Já havia decidido não escrever nada
a este respeito neste ano, sequer republiquei o texto “Em tempo de política” do
Adj. Otalevo, que conta o relato das lágrimas de Tia Neiva, mas, ao ver tantos
irmãos brigando por “quem é melhor” (preferiria dizer “menos pior”), e ao cúmulo de ver um “Preto Velho” fazendo
campanha (vi hoje a sagrada imagem de um de nossos abnegados mensageiros
portando a faixa de um candidato), não pude me calar e senti que devia
escrever, mesmo arriscando o desagrado de vocês.
Em tempo: Sim, eu tenho realmente um
candidato, e faço o que posso para apoiar anonimamente! Mas o “Mestre”, nos
perfis que todos sabem quem sou? Nunca!
Perdão pela sinceridade, mas
precisava cumprir este compromisso.
Kazagrande
Abaixo, parte do texto “Em Tempo de
Política”
Certa feita estava eu sentado no
Radar, naquele intervalo entre o primeiro e o segundo intercâmbio, e Tavares,
hoje presidente do Templo do Amanhecer de Crato – CE, encostou para uma prosa
ligeira, já que ali não é lugar para se ficar de papo comprido. Eis que chega
um adjunto maior (nós ainda éramos adjuntos regentes) e, prontamente,
respeitando a hierarquia, lhe perguntei o que “mandava”.
Ele vinha nos convidar para
participarmos da inauguração do “diretório” de um certo partido político, em
sua casa, situada na rua principal do Vale, a ocorrer mais tarde. Eu e Tavares
nos olhamos desconfiados, mas não polemizamos. Apenas agradecemos o convite e,
após tecer alguns comentários sobre as hipotéticas vantagens de termos um
núcleo partidário no Vale, o nosso politizado irmão foi embora.
O meu companheiro de Radar vinha
chegando e eu e Tavares fomos relatar o convite para Tia. Quando soube, ela
abaixou a cabeça e começou a chorar. Chegava a tremer. Entre grossas lágrimas,
disse: - Eles estão me envergonhando perante Pai Seta Branca!
O espartano em mim logo quis se
manifestar: - Deixa, Tia, que vou lá e dou um jeito nisso! Acabo com essa
história rapidinho.
Ela, ainda chorando, não permitiu: -
Não, meu filho. Você está no Radar e não pode se desequilibrar. Deixa que o
Tavares vai, como quem não quer nada, vê o que está acontecendo e vem me
contar. Mas esses homens não sabem que eu não aceito dinheiro do Governo, não
deixo fazer comício aqui dentro, nem carro-de-som com propaganda de político
deixo rodar aqui? Parece até que fazem só para me chatear...
Tia se referia aos avisos que nos
dava sobre o envolvimento dos jaguares com a política. Tivemos muitas
encarnações no poder material. Aliás, o jaguar vem à Terra, costumeiramente, em
momentos relevantes do planeta, em grandes transições, e, geralmente, alguns de
nós são colocados em pontos estratégicos, nos governos, donos de grandes
fortunas, líderes populares, em condições de auxiliarmos a espiritualidade nos
seus projetos.
Como nós, os jaguares ainda
encarnados, somos os mais enrolados karmicamente (os que se desenrolaram já são
caboclos, pretos-velhos, e nós ainda por aqui, marcando passo e dando
trabalho), entrar no padrão vibratório dos políticos representa se expor aos
cobradores daquelas épocas e, pior, abrir a guarda para os falcões, uma terrível
falange negra, surgida no Império Romano e “especializada” em atuar na área
política. Ficamos no dizer de Tia, “sem moral para doutrinarmos aqueles
espíritos”.
Ainda tem a questão do atendimento.
Tia atendia a todos os políticos que a procuravam, não sendo raro ver um carro
com a “chapa branca” estacionado diante da Casa Grande, altas horas, naquelas
noites em que não havia Trabalho Oficial e o movimento era menor. Eles
chegavam, o mais discretamente possível (até porque ela não lhes permitia o espalhafato),
contavam as suas angústias e anseios, se consultavam, riam, choravam, tomavam
um cafezinho, às vezes até jantavam aquela comidinha simples, mas tão gostosa,
da Casa Grande, e iam embora. Dependendo do político, saia com um pedido de
Tia, para arranjar um emprego para um de nós. Mas ficava nisso.
Nossa mãe nos ensinou que, se
tomarmos um partido, os do outro partido não virão nos procurar e falharemos
com a lei-de-auxílio incondicional, que é fundamental para a nossa missão.
Não é que não possamos trabalhar
para os políticos, mas mantendo a relação no campo profissional, sem nos
empolgarmos demais, sem entrarmos no campo vibracional deles. Também não quer
dizer que não possamos nos candidatar e, vencendo no pleito, cumprirmos
mandatos, mas temos de ter a consciência do que isso, karmicamente, irá
representar, dos problemas pessoais, como na saúde, na família etc., que podem
surgir, como um efeito colateral, pelas nossas dívidas do passado.
Simplesmente, para nós, isso é velha estrada, não é mais a nossa missão. O
custo/benefício, muito provavelmente, não compensará.
Por todos esses motivos, Tia nunca
permitiu, enquanto encarnada, manifestações políticas no Vale do Amanhecer. Com
a Constituição de 1988 (Tia desencarnou em 1985) e o regime democrático
imperando, não há como impedir o livre exercício do pluripartidarismo, da
liberdade de reunião etc. Mas não há como esquecer as lições da Clarividente.
Não há como ver um jaguar envolvido com a política sem sentir um aperto no
coração, uma preocupação com o nosso irmão. Especialmente, não há como esquecer
das lágrimas da nossa mãe.
Espero que essa mensagem não seja
interpretada como uma crítica àqueles que pensam diferentemente, ou uma afronta
aos direitos fundamentais constitucionais de ninguém, algo inconcebível para um
professor de Direito Constitucional, como eu. São só fatos, só emoções.
Conviver com a Clarividente nem sempre era o mesmo que ouvir o que se queria, o
que se esperava, o que se pretendia, sequer o que se acreditava.
Como Tia perguntava: - Caiu a carapuça?
