“A fornicação será punida com a morte!” Assim dizia a placa de madeira colocada no centro da Vila do Sol Nascente. O recém chegado barão português vinha assumir o mando local sob as graças de Maria I, Rainha de Portugal, Brasil e Algarves, de quem portava carta legitimamente firmada, mesmo em um período em que o soberano já era o Príncipe Regente Dom João.

O Barão conhecido pela dureza com que perseguiu o Marquês de Pombal, igualmente a mando de Maria I, trouxe uma pesada aura de preocupação para o povoado em franca ascensão. Seu decreto contra a fornicação (prática de sexo fora do casamento, ou mesmo atos libidinosos) era interpretado ao gosto de seus comandados, que ganharam o poder de acusar e levar a julgamento, com certeza condenatória, qualquer caso, principalmente de seus desafetos, ou de quem se recusasse a colaborar em suas falcatruas.

A filha do Barão mudou-se para a vila ainda pequena, cuidada por sua ama-de-leite, pois a mãe falecera no parto, dividia o peito com o filho da escrava que a amamentava, e, apesar da condição de escravo do menino, tornaram-se inseparáveis, como verdadeiros irmãos.

O Barão não fazia gosto desta fraterna amizade, porém cedia aos caprichos da filha permitindo a companhia do jovem escravo sob os olhos atentos e dissimulados de um guarda destacado para esta missão. Este soldado nutria uma paixão oculta pela jovem e sempre procurava desculpas para atormentar o jovem com tarefas criadas para afastá-lo do convívio com a jovem.

Certa feita, um burburinho tomou conta da senzala: Ouro reluzia a beira de um riacho próximo! O jovem prestou atenção na intenção dos negros em ocultar a descoberta e decidiu contar tudo para a filha do Barão, de maneira que ela descobrisse o ouro e pudesse, talvez, pedir ao pai que trocasse o guarda que tanto lhe perseguia.

Quando ele contou a ela sobre o ouro, resolveram ver se encontravam alguma pepita que pudesse ser entregue ao Barão como prova de seu relato. Seguiram para o riacho, ao final da tarde, sem perceber o soldado que os acompanhava oculto nas sombras das árvores. Entraram no riacho e não encontravam nada. Inocentemente começaram a jogar água um no outro, rindo alto da brincadeira. O soldado percebeu a oportunidade perfeita para afastar definitivamente aquele negro de seu caminho, e correu fazer a denúncia de fornicação!

Ao retornarem para a sede da fazenda, molhados, com as brancas roupas demonstrando as formas de seus corpos na transparência provocada pela água, o Barão os esperava. Com a fúria de um inquisidor ordenou a execução imediata do jovem escravo, que foi arrastado por cavalos, pelas ruas do povoado, até sua morte.

Também entregou sua própria filha ao jesuíta que trouxe de Portugal para zelar pelos “bons costumes”, de maneira que fosse punida da maneira que achasse melhor. Quando retornasse decidiria sobre seu destino.

Chamado pelo Príncipe Regente à Capital, não ficou para presenciar qual o castigo que seria imposto a filha. O jesuíta ordenou que fosse cavado um poço de trinta metros de profundidade e que ela ficasse pendurada por uma corda até o retorno do pai.

O suplício da jovem era imensurável! Calor escaldante durante o dia, frio insuportável à noite. Uma vez ao dia atiravam um balde de água sobre sua cabeça, e um pedaço de pão. Seus gritos pedindo clemência duraram por semanas. Até que parou de gritar...

O Barão recebia do Príncipe Regente diversos questionamentos a respeito do tratamento que havia dado à família do Marquês de Pombal, e acabou demorando muito mais do que havia previsto. Ao retornar ao povoado, destituído do poder de mando, o Barão soube que a filha havia morrido no poço esperando por sua clemência e jurando por sua virgindade. Ele deixou o plano físico naquele mesmo ano em um acidente de carruagem que vitimou também o jesuíta.

 

Espiritualmente

A jovem era um espírito evoluído que escolheu reencarnar para o reajuste de sus últimos débitos kármicos, justamente junto com o espírito daquele que amou como irmão naquela encarnação e que era seu último cobrador. Recebida pelas Legiões, logo assumiu a condição de Guia Missionária.

O ectoplasma emitido pela sinceridade de seus gritos de clemência, sem jamais culpar ou emitir qualquer desejo de vingança, impregnou aquele poço e mudou o povo daquela localidade, que passou a orar junto daquele poço. Com o tempo curas passaram a acontecer, e, conta Tia Neiva, que muletas iam se acumulando ao redor, deixadas pelos que receberam uma cura. O Poço da Virgem do Sol!

Na condição de Guia Missionária juntou-se à missão de Pai Seta Branca na implantação da Doutrina do Amanhecer. Tia Neiva, ao conhecer sua presença, percebeu que deveria fazer o Poço da Virgem do Sol. Alguns Mestres inclusive chegaram a se prontificar em preparar os estudos para a localização da escavação, mas logo Tia entendeu e explicou que seria nossa “Estrela Sublimação”!

O grandioso espírito da Virgem do Sol teve várias encarnações na Terra, mas esta foi sua última passagem pelo corpo físico dos terráqueos.

·         Esta passagem já foi relatada colocando o Barão como um rei de um reinado distante... Salve Deus! A essência do relato é a mesma, mas atesto que pude conferir vários personagens citados e somente não coloquei os nomes reais para evitar distorções. Na verdade, esta história possui muitos outros detalhes, mas seria necessário um livro para contá-la por completo.

Fraterno abraço, Kazagrande

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