Meus irmãos e irmãs, Salve Deus!
O texto abaixo é longo... Mas gostaria, do fundo do coração,
que lessem com o coração aberto e entronizassem as mensagens que vão além do atendimento
de Tia Neiva e deve nos levar a refletir sobre preconceitos e recalques que
instintivamente manifestamos ao observar o atendimento aos “ricos”. Além, é
claro, de outras valorosas lições igualmente apresentadas.
Fraterno abraço, Kazagrande
Mais um dia de consultas de Neiva. Desde as dez horas da
manhã, o povo se comprimia no recinto do Templo reservado ao público, e a
impaciência era sensível no ambiente. Em sua maior parte, os consulentes eram
gente simples. Às seis horas da manhã já haviam formado fila diante da porta do
Templo, em busca de uma ficha, e o número de pessoas a serem atendidas já se
havia esgotado.
Um carro parou bem junto ao Templo, e dele desceram algumas
pessoas bem vestidas. Uma senhora de certa idade, duas moças e um rapaz. A
senhora demonstrava ser pessoa de bom trato, enquanto as moças e o rapaz usavam
calças coloridas e cabelos longos. Tão pronto se aproximaram da porta do
Templo, formou-se um clima de hostilidade. A senhora, demonstrando certa
familiaridade com o ambiente, abriu caminho por entre o povo e se aproximou da
moça que atendia os candidatos à consulta. Falou com voz baixa e a moça foi até
à Clarividente, voltando daí a poucos instantes. Pediu licença aos que
obstruíam a entrada interna, e conduziu os quatro para um banco próximo ao
local onde Tia Neiva consultava. Um murmúrio se levantou no meio do povo. Uma
pessoa menos paciente fez um comentário áspero. No meio do vozerio que se
formou, distinguiam-se as palavras grã-finos, ricos e termos semelhantes. Neiva
levantou-se, e se voltou para o povo, que se calou de pronto. De pé, sem nada
dizer, ela ficou olhando para aquele povo simples, todos de olhos baixos, e por
fim falou, pedindo que tivessem paciência. Disse que todos seriam atendidos e
que a família que acabava de ser admitida tinha um problema muito mais sério do
que os deles. O povo se acalmou, e o dia de consultas prosseguiu normalmente.
Eu me havia perturbado com a cena, e sentia certa irritação.
Todo dia de atendimento surgia esse problema. As pessoas mais simples,
geralmente moradores das proximidades, chegavam de madrugada, e absorviam todas
as vagas. O pessoal de Brasília, quando chegava, já não conseguia lugar. Eu já
havia estudado várias maneiras, mas nenhuma dava resultado, sempre surgia
alguma perturbação.
As consultas terminaram cerca de oito horas da noite. Meus
nervos estavam à flor da pele, e Neiva sentiu meu estado. Após a refeição
frugal, ela me perguntou o que eu estava sentindo. Aí, explodi, e fui dizendo:
- É esse seu atendimento, Neiva. Precisamos dar um jeito
nisso. Toda hora tem enguiço com esse pessoal de Brasília. Por que eles não vêm
cedo, como os outros?
- Calma, Mário, não se preocupe muito com isso. Deixe estar
que dou um jeito com minhas meninas. Isso é assim mesmo. Aos poucos, o povo vai
aprendendo. Você parece que também está irritado com os grã-finos! Já se
esqueceu da lição de Seta Branca?
- Que lição? – retruquei, ainda irritado.
E ela, remexendo com o garfo a comida esquecida no prato,
foi-me lembrando as palavras do Mentor. Aos poucos, fui-me acalmando, e meu
espírito se encheu de admiração pela sabedoria daquele excelso espírito. A
lição de Seta Branca foi muito simples. Ele disse:
- Meus filhos, é preciso ter caridade para com os ricos,
pois suas vidas são mais difíceis que as dos pobres. Estes já têm tudo de que
precisam para sua evolução, pois a própria condição de pobre lhes dá isso. A
rudeza da sua vida não os deixa sentir os problemas com maior intensidade. Mas,
o Homem que recebeu uma educação, tem uma certa finura e sensibilidade, esse
sofre muito mais. Não quero que vocês o submetam a humilhações. Vocês sabem o
que significa, para uma pessoa educada, disputar um lugar para ser atendido por
vocês? É preciso, portanto, dar mais atenção a eles. Por que submeter uma pessoa
fina, educada, limpa, à humilhação de sentar-se no mesmo banco com uma pessoa
grosseira e cheirando mal? O pobre não se sente muito mal ao sentar-se nesse
banco, mas o rico sente. Vocês já repararam como o homem rico de Brasília tem
dificuldades em encontrar um lugar para se tratar? Os hospitais de Brasília
nivelam todos quase no mesmo plano. Por isso, quero que vocês, no futuro,
construam um hospital onde o rico possa ser tratado com o conforto que merece.
E há, ainda, as tradições humanas. Convencionou-se que a caridade é para os
pobres, os miseráveis, e se faz disso uma indústria. Essa é uma ideia muito
material da caridade! Até essa palavra está tão desvirtuada que prefiro que a
usem o menos possível. Todos merecem ser bem tratados, e não quero que se demonstre
ressentimento a uma pessoa, só porque ela tem um carro e um padrão de vida
melhor. Lembrem-se de que vocês conhecem a precariedade da existência na Terra.
O homem que hoje é rico e poderoso, ontem foi, talvez, um pobre miserável. E o
pobre de hoje foi, talvez, o rico que ontem desperdiçou sua fortuna e oprimiu
outros. Todos devem ser bem tratados, mas cada um merece atenção de acordo com
seu padrão!...
Quando ela terminou, meus pensamentos estavam muito
modificados a respeito desse assunto. Neiva, então, contou um caso que se
passara há alguns anos, na antiga UESB, que bem demonstra o que Seta Branca
queria dizer:
- Mário, você não conheceu a UESB. Lá é que a pobreza se
concentrava, nos seus aspectos mais tristes. Meio alqueire de terra de cerrado
e água escassa. Beira de estrada, a meio caminho de Anápolis, próximo a
Alexânia. Quando começamos, Brasília ainda estava em obras e quase não havia
assistência hospitalar. Os pobres e desajustados, que em grande quantidade
vinham para cá, atraídos pela miragem de um futuro melhor, acabavam por
procurar socorro na UESB. Nossas construções eram todas de barro e cobertas com
palha. Todos os dias, uma verdadeira multidão se concentrava lá. Vinham a pé,
de carroça, a cavalo, ou desciam dos ônibus que faziam a linha de Brasília.
Portavam as moléstias mais terríveis e muitos pediam para ficar, pois não
tinham para onde ir. Improvisamos um hospital, à nossa maneira, e tratávamos
todos os tipos de doenças. Predominavam os problemas mentais. Trabalhávamos dia
e noite, sem parar. Eu atendia numa pequena palhoça, bem no centro da
comunidade. Certa tarde, as coisas estavam particularmente difíceis. Como você
sabe, Mário, aquela concentração de pessoas desajustadas formava tremendas
cargas espirituais negativas. A par do simples atendimento, tínhamos que manter
o ambiente psíquico em constante renovação. As cargas, às vezes, pesavam demais
e, até darmos conta da limpeza, o ambiente permanecia pesado. Naquela tare, as
coisas estavam dessa maneira. O povo esperando nos arredores de minha cabana,
estava impaciente e, a toda hora, as meninas que me ajudavam tinham que acalmar
pessoas. Nesse ambiente de tensão, chegou um vistoso carro Simca, e dele
desceram duas senhoras em traje de viagem, demonstrando serem pessoas de posses.
Tão logo localizaram Jesualda, minha pequena assistente, foram logo dizendo que
queriam falar com dona Neiva, mas que dispunham de pouco tempo, e queriam ser
atendidas logo! É fácil imaginar a impressão que isso causou entre os que
esperavam, alguns já há muitas horas. Levantou-se um murmúrio de protesto.
Jesualda pediu-lhes que aguardassem um instante, e correu até mim, pedindo
instruções. Meu primeiro impulso foi o de mandar dizer àquelas senhoras que
teriam de esperar, pois havia pessoas necessitadas a serem atendidas. Mas,
nisso, Mãe Etelvina me mostrou, de relance, o quadro delas, e fiquei
horrorizada! Mandei que entrassem de imediato.
- E o povo não protestou? – perguntei.
- Sim, a gritaria entre os que esperavam foi grande. Só
nossa posição moral, que impunha muito respeito, evitou que acontecesse algo
pior. Alguns se levantaram e saíram dizendo as piores coisas a meu respeito.
Ouvi distintamente quando uma mulher disse ser eu uma bajuladora de grã-finos,
e outras coisas desagradáveis. Um homem da roça, cujo apelido era Bodinho, que
há muito vinha se tratando conosco, desandou a falar grosserias e só parou
quando um de nossos médiuns lhe pediu. Apesar de tudo, fiz entrar as duas
mulheres, que se sentaram diante da minha pequena mesa, e se apresentaram.
Walda, 26 anos, morena esbelta, muito bonita, descendente de tradicional
família pernambucana, e Elza, mais jovem. Ambas eram casadas com comerciantes.
Elza havia se casado com um irmão de Walda, residente em Brasília. Walda morava
em Pernambuco, e tinha vindo, com o marido e uma filhinha de 5 anos, conhecer a
nova cunhada. Enquanto falavam, eu via desfilar diante dos meus olhos um quadro
tenebroso: Walda, que ali estava diante de mim, saudável, bonita, tinha,
apenas, mais algumas horas de vida! Percebia sua inquietude e, procurando
discernir o que fazer, comecei a falar de sua filhinha. Seus olhos se encheram
de lágrimas e perguntou se a menina ia ser feliz. Respondi afirmativamente, e
lhe disse que ela estava passando por um sério perigo, iria sofrer um desastre!
Enchi o quadro com uma porção de coisas sem importância, procurando evitar ter
que dizer qualquer mentira. Walda, porém, estava completamente fora da
realidade. A única possibilidade que eu via era a de detê-la comigo. Mas como?
Se ela ficasse, talvez nada lhe acontecesse. Mas, como inculcar numa pessoa,
naquelas condições, uma Doutrina? Diante das minhas reticências, Walda começou
a se impacientar e a me desafiar. Por fim, levantou-se e disse:
- Não tenho medo, pois não acredito que Deus deixe acontecer
algo ruim comigo. Vivo fazendo caridade aos outros, e não faço mal a ninguém...
Neiva prosseguiu:
- Meu coração apertava cada vez mais. Ali estava aquela
moça, cheia de cuidados com o futuro, prestes a morrer, e eu sem poder fazer
nada por ela! Começava a não entender mais nada! Fui tomada de terrível
perturbação, e quase perdi os sentidos. Nem reparei quando elas se levantaram
para sair, e Walda, estendeu a mão, despedindo-se, e me perguntando se eu havia
visto somente o desastre. Atraída pelo tumulto, chegou Mãe Neném, nossa
presidente, e que respondia pela maior parte dos assuntos da UESB. Ainda
perturbada, diante de Walda, vi quando Elza se apresentou à Mãe Neném, e passou
a lhe explicar a razão da vinda delas. Elas vinham de Brasília, em direção a
Goiânia, e Walda começara a se sentir mal, pedindo que parassem ali. Embora
Elza conhecesse a cunhada havia pouco tempo, achou-a esquisita e diferente, e
não teve dúvidas em atender o pedido dela. Já havia ouvido falar da UESB, e
achou que seria até oportuno, pois ela também queria conhecer Tia Neiva. Agora,
porém, se sentia meio sem jeito, diante da atitude da cunhada com dona Neiva.
Depois que elas saíram, fui até a porta da cabana e vi o Simca se afastando – o
mesmo carro que vira no desastre em que Walda iria perder a vida!
Após pequena pausa, Neiva continuou:
- Na primeira folga, para tomar um ligeiro lanche, Mãe Neném
chegou perto de mim e perguntou se aquela moça estava condenada. Admirei-me da
sua intuição, e confirmei sua suspeita. Ficamos as duas tristes e caladas.
Enquanto tomava um café, pensava no que acabara de acontecer. Pela minha
experiência, os Médicos do Espaço já tinham feito o desencarne dela.
Geralmente, quando isso acontece, a pessoa fica meio apática, embora não perca
a lucidez. Falei com Mãe Neném que tinha certeza de que Walda fora atraída até
nós para ter um desencarne melhor. Infelizmente, nada pudemos fazer, a não ser
ajudar o espírito dela.
- E o que você viu no quadro dela? – perguntou Mãe Neném.
- Vi, Mãe Neném, que Walda e Elza foram irmãs, numa
encarnação recente. Walda chamava-se Valéria, e Elza chamava-se Cláudia.
Pertenciam a uma família paulista, muito rica. Valéria – a Walda de hoje – se
casou com um rapaz chamado Marcelo. Depois do casamento, Marcelo descobriu que
amava Cláudia – a atual Elza –, que era a mais velha das duas irmãs.
Inconformados coma situação e tomados de paixão, Cláudia e Marcelo tramaram a
morte de Valéria. Para a execução de seus planos, se aliaram com uma camareira.
Aproveitaram uma ocasião em que Valéria estava distraída, num balcão do
apartamento onde moravam. Empurraram-na, e ela esfacelou-se lá embaixo. O crime
não foi descoberto, e Marcelo casou-se com Cláudia, vivendo muito tempo em
relativa felicidade. Terminado o tempo na Terra, foram todos recolhidos no
astral, onde a Lei de Causa e Efeito determinou o reajuste. Preparados pelos
Mentores e tendo passado pelo sono do esquecimento, nasceram e cresceram até o
momento dos encontros e reajustes. Marcelo, hoje um comerciante de Pernambuco,
de nome Josué, conheceu Walda, a antiga Valéria, sua vítima do passado, com
quem se casou. Elza, a antiga Cláudia, sua cúmplice de ontem, casou-se com um
irmão de Walda, entrando, assim, na intimidade da família. Josué e Walda
tiveram apenas uma filhinha, hoje com 5 anos. Essa filha é, justamente, a
camareira que, na ocasião, ajudou a matar a antiga Valéria, que se tornou sua
mãe atual.
- Não estou entendendo muito. – Objetei – Se essa moça já
foi vítima em outra encarnação – parece-me que morreu muito jovem –, por que
iria morrer jovem novamente? Por que não a outra, a antiga Cláudia, ou, então,
a filha ou, ainda, o atual marido?
- Mário, – respondeu ela – parece que você não compreende
que, na morte, sofrem mais os que ficam! Repare nas pessoas quando morre alguém
da família. Conforme o tipo de relação que existia entre elas, as pessoas que
ficam é que sofrem mais! O espírito desencarnado, se cumpriu seus reajustes, se
pagou suas dívidas ou se as cobrou, consegue seu encaminhamento para os planos
espirituais, e não sofre.
- Não sofre? – perguntei – Como não sofre, se ele ama as
pessoas que deixou?
- Ter saudades, amar ou ter qualquer outro sentimento por um
ser encarnado, não significa necessariamente sofrimento para o espírito, Mário.
Lembre-se de que o espírito, liberto das limitações da personalidade
transitória, vê a vida dos espíritos que ama, na dimensão transcendental, no
seu todo, e compreende o porquê das coisas que estão acontecendo. Justamente,
esse é o ponto-chave do esquecimento do espírito encarnado. Ele sofre porque
não sabe. Quando ele aprende, quando ele fica sabendo, por processo íntimo seu,
dos porquês da sua vida, ele deixa de sofrer. É por isso, Mário, que você vê
tanta disparidade na vida. Uns sofrem até por pequenas coisas, e outros não sofrem.
Têm dores, e não sofrem. Sofrer ou não sofrer, eis a questão...
Nessa altura, comecei a divagar, e perguntei a mim mesmo o
que seria sofrer. Diz o dicionário que sofrer é o mesmo que padecer. Ambas as
palavras querem dizer, mais ou menos, sentir o efeito de dores físicas ou
morais. Sofrer, então, seria uma maneira de sentir. Existe a dor, e a pessoa
sente mais ou sente menos. Problema de perspectiva, de visão, de conhecimento,
de evolução espiritual...
Interrompi minhas divagações e voltei minha atenção,
novamente, para o relato de Neiva:
- Pois é, Mário, ali estava um quadro nítido de reajuste.
Com a morte de Walda num desastre, Elza iria se sentir culpada, pois ela quem
havia sugerido essa viagem a Goiânia. Sei que isso não seria suficiente para
uma pessoa sofrer. Mas, o trauma atual iria ser reforçado pela recordação
inconsciente do quadro passado. Além disso, um desastre é sempre um quadro
violento, que afeta as pessoas mais do que um desencarne comum. Josué – o
antigo Marcelo – também seria afetado terrivelmente, pois amava realmente a
esposa, com quem tem laços afins muito antigos. Ele já era uma pessoa sofrida,
pelas recordações inconscientes do passado. Além disso, ficaria com o problema
da filhinha ainda tão nova. Esta, por sua vez, seria joguete das
circunstâncias, e iria sofrer as consequências disso. Enfim, todos que ficaram,
justamente os três personagens da antiga tragédia, teriam dores terríveis. O
quadro se inverteu. Ontem, eles gozaram uma situação pela morte da outra
personagem. Hoje, sofreriam pela morte dela!
- É, Neiva, se a gente não conhece a Lei, nos revoltamos com
uma tragédia dessas. De fato, não deve ter sido fácil para você conhecer essas
pessoas e saber pelo que iriam passar.
- Não, Mário, nunca é fácil a gente ver o sofrimento dos
outros. Não se esqueça de que, apesar da clarividência e da Doutrina, eu sou um
ser humano que ama seu próximo. Tenho mais pena e me compadeço, porque sei que
poderiam evitar muito sofrimento, se aceitassem essa Doutrina, que é tão
natural, tão lógica, tão fácil de entender. Nessa hora fico lamentando por
tantos espíritos inteligentes, que poderiam trazer a compreensão para a
humanidade, mas, ao invés disso, ficam inventando religiões e mitos tão contrários
às leis naturais.
- Mas, – objetei – de qualquer forma, as pessoas têm que
passar pela dor. Acho que a Doutrina não vai evitar que elas cumpram seus
carmas, suas dores.
- Não é verdade, Mário. A dor só existe em função de
alertar, despertar o espírito para suas realidades. Quando a gente tem uma dor
de dente, é porque existe uma anormalidade. Vamos ao dentista, e o problema é
resolvido. O problema da vida é muito semelhante, e o “dentista” é o Cristo,
que está no coração das pessoas, no íntimo de todo ser humano. Quando a pessoa
tem uma Doutrina, uma relação harmônica com seu destino transcendental, evita
muita dor. Na verdade, o carma, esse efeito implacável de uma causa anterior,
pode ser modificado, recartilhado, como dizem os espíritos, e, até mesmo,
evitado. No fundo, é uma compensação energética que tem que ser feita, energia
a ser desenvolvida, reposta. A vantagem é que pode ser feita sem dor, quando
existe uma Doutrina.
- Neiva, – disse eu – não quero parecer fanático de
espiritismo, mas parece-me que ele oferece uma forma muito prática para a
solução do problema: é pela mediunidade, se considerarmos o fenômeno mediúnico
como natural, biológico, e não privativo do Espiritismo. Pelo que tenho visto,
a mediunidade é a energia que provoca a manifestação cármica. Mas é, também, a
energia que coloca o ser humano em contato com o seu transcendental, como você
disse. Assim, torna-se possível fazer-se a compensação energética pela prática
mediúnica, e evitar-se tragédias cármicas, como essa que você acabou de
relatar.
- Sim, Mário, isso é perfeitamente possível. Se essas três
pessoas – Walda, Elza e Josué – fossem espíritas ou tivessem qualquer doutrina
ou religião autêntica, isto é, fossem, verdadeiramente, religiosas e não apenas
na aparência; se assim fosse, e eles estivessem cumprindo seus deveres
espirituais, não importa a forma, tenho quase certeza de que a atual tragédia
estaria sendo evitada. Não tenha dúvida de que teriam que padecer dores – isso
é inerente à nossa condição humana –, mas não sofreriam tanto! Naquele dia,
atendi, ainda, uma centena de clientes. Parecia que as pessoas haviam
adivinhado a tragédia, pois se tornaram pacientes e cordatas. O próprio Bodinho
parecia ter-se arrependido da sua intolerância, e se foi junto com os outros. Eram
seis horas da tarde, a hora em que o coração se recolhe, numa espécie de
balanço do que fizemos durante o dia. De repente, ouvi uma algazarra no portão
de entrada, e vi Bodinho correndo e acenando. Esperei, com o coração acelerado,
e ele chegou perto de mim, ofegante, acompanhado de vários médiuns. Todos
falavam ao mesmo tempo e, por fim, consegui entender o que diziam: Há poucos
quilômetros dali o Simca havia se chocado com uma carreta, e se espatifara.
Todos estavam feridos, embora sem gravidade, exceto a morena bonita, Walda, que
morrera na hora! Isso se deu em 1962...
Permaneci muito tempo meditando naquele episódio. Uma das
coisas que não conseguia entender bem era essa questão da morte, do desencarne,
como dizemos nós, os espíritas, com hora marcada. Mais tarde, quando consegui
uma brecha no moto contínuo da Clarividente, interroguei-a a respeito. Minha
primeira pergunta foi com relação à profecia da morte:
- Neiva, já ouvi muitos relatos de pessoas que dizem ter
parentes ou amigos que desencarnaram exatamente no dia e hora previstos. Isso é
verdade? E você pode saber a hora em que você ou outra pessoa vai desencarnar?
- Não, Mário, nunca se sabe a hora em que uma pessoa vai
morrer, mesmo que se tenha uma data, uma profecia.
- Mas, como? – retruquei – Se existe uma hora marcada, a
pessoa pode burlar essa hora?
- Não, Mário, o problema não é de burla, mas, sim, de livre
arbítrio e da reação humana. Nunca se sabe como um ser humano vai reagir, nem
ele mesmo, nem Deus. Sim, Mário, nem Deus sabe como um ser humano vai reagir
diante de uma dada situação. É verdade, existe uma programação cármica, um
enredo de fatos a serem acontecidos, dentre eles, a data da morte. Mas esses
fatos, esses efeitos de causas anteriores, vão acontecendo de acordo com as
vontades, as reações dos componentes dos mesmos fatos e de sua aceitação, e
conforme a maneira como eles reagem e interagem. Na verdade, Mário, não se pode
interpretar o carma como algo estático, definitivo, como, aliás, não são os
fatos humanos. Existe um dinamismo em que os fatores são variáveis ao extremo e
existem os carmas coletivos. Tudo depende da gama da Lei em que os fatos se
enquadram. Tudo é relativo a um ponto de referência e, não se esqueça, se as
reações humanas individuais são imprevisíveis, muito mais são as reações
coletivas. Na verdade, os Mentores e Guias têm um enorme trabalho para manter
seus pupilos nas respectivas faixas cármicas. Sua maior preocupação é a de que
seus protegidos não fujam de suas metas cármicas e não percam suas encarnações.
- Agora me ocorreu uma coisa, Neiva. Você disse que, se
pudesse segurar a moça ali na UESB, poderia ter feito alguma coisa por ela.
Quer dizer, ela teria a possibilidade de ser evitado o seu desencarne?
- Não. Quando ela chegou, seu desencarne já estava em andamento.
É como um parto. Depois que começam as dores, não se pode evitar que a criança
nasça. Assim é o processo do desencarne.
- Então foi como no caso do Alcino. Você viu a morte nos
olhos dela?
- Não, não vi. Você talvez esteja impressionado com essa questão
dos olhos, mas é fácil de explicar. Quando o desencarne está em andamento, tem
início uma modificação metabólica que, de imediato, se reflete nos olhos. Há
dilatação das pupilas e um embaçamento característico. Aliás, os médicos podem
até fazer diagnósticos pela aparência da íris, nos olhos de uma pessoa.
- E com relação ao tipo de morte? Faz alguma diferença, no
processo do desencarne, a maneira como a pessoa morre?
- Não, não faz diferença. Para o espírito, pouco importa a
maneira de morrer. Mas importa, e muito, para os circunstantes. Assim, a morte
de Walda, daquela maneira triste, foi mais para a cobrança de Josué e Elza. Vou
contar-lhe um caso, que será bem ilustrativo. Quando eu era mocinha, morava na
minha cidade um homem muito bom, que tinha uma família numerosa. Um dia, ele
ficou doente, e entrou em coma, numa agonia de dar pena. Todo mundo na cidade
se comoveu. Pior que a agonia dele foi se prolongando de tal maneira, que
ninguém mais tinha sossego na cidade. Ninguém dormia direito, e todos estavam
sofrendo. A partir de certo ponto, todos passaram a ansiar que ele morresse,
sossegasse logo, inclusive a própria família. E quando, finalmente, ele morreu,
foi um alívio geral! Compreende, Mário? Se ele morresse uns dias antes, todos
achariam que teria sido uma injustiça de Deus. Imagine tirar a vida daquele
homem tão bom!
- Mas, – objetei – e agonia dele? Era merecida?
- Não, Mário, a agonia dele não era dolorosa como nós
imaginávamos que fosse. Na verdade, os próprios Mentores é que estavam segurando
seu espírito, até que os parentes estivessem preparados. Ele, em coma, não
tinha a mesma sensibilidade, a dor que nós outros tínhamos.
- E a propósito, Neiva, como é dada essa assistência dos
Médicos do Espaço? Qualquer pessoa tem essa assistência?
- Sim, qualquer ser humano recebe assistência na hora do
desencarne, mesmo que se trate de desencarne coletivo. Para isso, existem
equipes especializadas, que estão sempre prontas a atender o chamado dos
Mentores.
- Bem, Neiva, acho que, com essa explicação, ficamos sabendo
tudo sobre a morte...
- Não, Mário, nós não sabemos tudo sobre a morte, porque
cada caso é diferente de outro. Não existem duas mortes iguais. Mais importante
do que saber sobre a morte é saber sobre a vida! Trate de escrever. Explique tudo
às pessoas, para que saibam que as Leis do Criador são perfeitas e que não
existe ser humano algum sem oportunidade. Não pense que as pessoas ficam na
dependência exclusiva do Espiritismo ou de qualquer outra religião em
particular. Não! Os mecanismos de assistência espiritual existem, e funcionam
sempre. O problema é o ser sair um pouco da ilusão, do maya, e mergulhar na sua
própria realidade. Não quero afirmar, com isso, que não deva haver religiões.
Quero dizer é que não deve haver fórmulas criadas pelos homens. A vida em si é
a melhor religião do ser humano! O melhor altar que existe é o coração humano.
Se nesse altar se cultua Deus ou o Diabo, é o problema de cada um, é a posição
que cada um determina para si mesmo. O culto é essencialmente individual na
religião da vida.
Exelente texto traz uma ótima reflexão como sempre, porém ñ o início do trxto em que se refere ao tratamento especial que os ricos recebem,infelizmente pela primeira vez vou discordar,talvez eu ñ tenha entendido direto,vou reler p absorver melhor.Se é rico ou pobre temos que evoluir e penso eu que pelo menos em lugares como o vale do amanhecer o tratamento deveria ser exatamente igual, sem essa de rico ñ sabe se portar como pobre achei o pensamento meio confuso,vou reler o texto p compreender essa parte melhor.
ResponderExcluirPostar um comentário
Comente com amor! Construa, não destrua! Críticas assim serão sempre bem vindas.