Relendo meus guardados, buscando a inspiração para o longo dia que foi hoje, deparei-me com um texto do Adjunto Otalevo que, após relê-lo não pude resistir em publicá-lo. Primeiramente pelo grande apreço que tenho por este Comandante e também, por citar já no começo, o Mestre Roberto Roque, que há tempos não atualiza seu blog. Quem sabe assim ele desperta para fazer outros questionamentos que possam transformar-se em textos tão bem escritos como este. Além citar também a Teresinha, pessoa a quem conjuntamente admiramos, e a quem minha Ninfa dedicou sua primeira apresentação em PowerPoint fora de seus estudos (publicada neste blog).

Kazagrande

Vou contar esta história atendendo a um pedido do mestre Roberto Roque. Na verdade, foi uma ameaça. Ele me disse que se eu não contasse, ele contaria lá do jeito dele. Achei melhor não correr tamanho risco.

A Estrela fora inaugurada há poucas semanas. Não existiam ainda Comandantes Janatã, sequer adjuntos. Nós, consagrados como Mestre Luz, sob o Comando do saudoso Mestre Nóia, éramos os responsáveis pela organização das consagrações, desde os ensaios feitos antes da inauguração da Estrela. Os mestres interessados em comandar o trabalho colocavam os nomes em um livro, que ficava na Casa Grande, chegavam mais cedo naquele dia, pegavam a bolsa com cartas, lei e o mais necessário para uma escalada e subiam para a Estrela, só isso. No final da tarde, devolviam a bolsa e iam embora. Não havia o ritual de entrega das energias. Aliás, nem Turigano.

Era o meu dia. Passei na Casa Grande e deparei com expressões de surpresa e alívio, pois não tinham identificado, só pelo nome, quem era o mestre “João Amilcar”, como assinei.

- É o João, filho da Nercy, seu Mário gritou para Tia.

- Então pode. Entrega a bolsa, ela respondeu lá do Sétimo. Minha cara de “não estou entendendo” deve ter sido irresistível. Tanto que Seu Mário veio me explicar:

- Liga não João, está tudo bem. É que ontem, o comandante fez tanta besteira que Neiva subiu até a Estrela a pé, deu a maior bronca, mandou todo mundo descer. Ela ficou muito triste, dizendo que nem sabia se ainda poderíamos abrir o trabalho novamente. Acho que a zanga já passou mais. Só que estávamos preocupados, sem saber se o comandante de hoje não iria causar problemas novamente. Você tem alguma dúvida? Hoje talvez tivesse.

Com 18 anos, o cabelo no meio das costas e vendo desafios em todos os perigos, claro que afirmei estar tudo bem com veemência suficiente para receber a bolsa e ainda uma tapinha de boa sorte nas costas. Entrei no meu fusquinha 69 (estávamos em 76, não era tão velho assim...) e fui para o Solar dos Médiuns ouvindo Hendrix no volume máximo do PHILIPS de bandeja. Quem tem menos de 40 talvez tenha alguma dificuldade para entender o que escrevo, mas pode ter certeza que estava tudo “jóia” para mim naquele dia. Estacionei em frente ao córrego que cortava o Solar dos Médiuns e levava água para a cachoeira. Tirei a bateria do carro e liguei no amplificador do radar, sem a qual nada de som.

Contei os presentes, não davam. Coloquei a bateria no carro novamente e fui bater nas portas das poucas casas da época, convidando mestres e ninfas para participarem da consagração, até completar o mínimo exigido pela lei. Até sobrou. Terezinha chegou, pegou o microfone e começou a cantar. Ela fazia isso todos os dias. Um trabalho fantástico fez essa ninfa, naquele início do mestrado. Sem ela tudo teria sido muito mais difícil. Inclusive porque era quem conhecia melhor o ritual e esclarecia as dúvidas porventura surgidas nos comandantes.

Ergui os braços, para convocar os mestres para o coroamento, e o zíper da minha calça estragou e abriu, de cima em baixo. Fui salvo por Terezinha, que tinha um alfinete sobrando na indumentária e me emprestou. Ela me disse que dava para continuar. Acreditei e continuei. Ai Tia chegou, com jornalistas e fotógrafos. O Vale tinha saído em uma revista de grande circulação há pouco tempo e fora descoberto pela mídia. Toda hora tinha alguém pedindo entrevista para os médiuns desacostumados, encabulados, sem jeito. Recebi mais umas instruções e pude começar, finalmente.

Na época, quando os mestres deitavam no esquife, lá ficavam por vinte minutos, enquanto o comandante ia imantrando, ou seja, falando por bem meia hora. Nem todos tinham tanto argumento assim e a bolsa já continha várias preces, para encher o tempo. Prece de Cáritas, Prece Hindu e outras das quais já não me lembro. Segui o roteiro e li as tais cartas, mas achei aquilo meio devagar demais. A consagração terminou, Tia estava muito satisfeita, aliviada mesmo. Me deu um beijo, riu, chamou para o almoço, foi para casa com os repórteres. Tem uma foto minha, com ela no radar da Estrela, naquele dia (aparece até a braguilha mal fechada), na casa do Mestre Pedro Izídio, Adj. Muyatã, no Muyatã do Amanhecer, em Planaltina de Goiás. Vale conferir.

Assim, na segunda consagração, sem Tia para escutar (era o que eu achava), quando os mestres se deitaram, fechei os olhos e improvisei. Rezei, invoquei, filosofei... Certamente não lembro o quê, quanto ou como. Mas funcionou. Estava há uns dias sem ir ao Vale. Cheguei na Casa Grande e já subi para o trabalho. Não desci para almoçar com Tia, preferindo armar minha rede em um dos quiosques e ficar desenhando na velha prancheta. Eu era o Comandante do dia e tudo ali estava sob minha responsabilidade. Me contentei com um pacote de biscoitos e uma coca.

Como também não fiquei de conversa fiada com ninguém, parece que só eu não sabia que estava marcada uma reunião na Estrela naquela tarde, para depois da segunda consagração. Era sobre uma peça teatral que Tia queria montar, contando uma história dos pretos-velhos, acho que da Cachoeira do Jaguar. Naqueles tempos, os mestres ficavam por perto da Casa Grande, conversando, esperando Tia dizer que estava na hora de ir para a Estrela. Ai subiam todos juntos.

Bem, foi assim: Os mestres se deitaram nos esquifes, não tinha ninguém fora da parte iniciática, fechei os olhos, falei quase meia hora e, quando abri os olhos de novo, centenas de mestres me ouviam, outros tantos estavam chegando. Se fiquei encabulado? Deixa pra lá! Ao sair, muitos comprimentos, elogios. Nestor (1º Mestre Jaguar) e Mário Sassi, que estavam conversando, me chamaram.

- Este serve! Apontava para mim, Mário disse.

- Estou reunindo um grupo e mestres, para umas aulas especiais. É secreto. Não comente com ninguém. Venha na terça-feira, às nove horas da noite, para o Castelo dos Doutrinadores, Nestor me falou, baixinho.

Tinha tanta gente em volta, falando, rindo, cantando, que não ouvi muito bem. Só me lembro desse trecho, mas ele falou um pouco mais, que se perdeu. Era o convite para participar da primeira turma de centuriões do Amanhecer, da qual tive a feliz oportunidade de fazer parte. Mas isso é outra história. Importante mesmo foi aquele meu improviso, ouvido pelas pessoas certas, na hora certa, que mudou a minha vida mediúnica. Aliás, naqueles vinte minutos, foi o que fiz: me mediunizei e deixei fluir.

Muitos de nós esqueceram como se faz. Decoram umas leis e cartas e se acham grandes médiuns. Na terceira consagração já estava escuro. Acendemos um lampião a gás e um mestre foi na frente dos demais, levando-o sobre a cabeça, para iluminar o caminho. Aquele lampião ficava no centro Estrela, na base da elipse, durante todo o ritual.

Concluído o trabalho, nos despedimos, os mestres foram para as suas casas e desliguei a bateria do som, rumando para o meu carro no escuro. Passei pela pequena ponte sobre o córrego, pus a bateria sob o banco traseiro do fusca e, quando ia conectar os cabos, lembrei que tinha deixado a minha querida caixa de canetas na choupana. Larguei tudo como estava e fui correndo buscá-la. Mais uma vez atravessei a ponte, peguei a caixa de canetas e voltei correndo. Ai esqueci da ponte e cai no córrego, com capa e tudo. A caixa se abriu e as canetas se foram na correnteza. Tentando pegá-las, escorreguei e cai mais algumas vezes, até desistir da tarefa impossível naquela escuridão.

Voltei encharcado para o carro, zangado pelas canetas perdidas. Liguei a bateria e desci para a Casa Grande. Lá chegando, Tia, Mário e outros tantos jantavam na mesa principal. Quando me viram daquele jeito, todo molhado, pingando, com a bolsa em um braço e a capa enrolada no outro, pararam de comer, sem entender bem o que estava acontecendo, só me olhando de cima em baixo. Seu Mário, com a mente ágil que Deus lhe dera, reagiu primeiro:

- Ué, choveu???

- Não! Cai no córrego, respondi.

Nem é preciso tentar descrever os risos e gozações que se seguiram. Tia ria de correr lágrimas:

- Mário, chuva nesta época do ano!?

E ria, ria...

- João foi batizado pelo Povo da Cachoeira!

E ria mais ainda. Todos riam, menos eu, com fome, com frio e, especialmente, sem as minhas canetas. Seu Mário, rindo ainda, veio me perguntar se eu precisava de alguma roupa emprestada, “uma cueca, uma meia...” A idéia de vestir uma cueca do Seu Mário, com todo o respeito, não me animou muito. Assim, agradeci e disse que tinha vindo direto do Colégio e, por isso, tinha roupa no carro. Só queria ir embora para casa. Ai me lasquei. Tia ouviu e disse que não era para ir embora coisa nenhuma. Deveria jantar e participar da aula que ia começar dali a pouco, no templo. Ainda tentei escapar:

- Mas a reunião é só para Mestre Sol.

- Você fica!

Fiquei, é claro. Um frio terrível, o templo gelado, eu sentado numa meia parede, de um tijolo de largura, na porta do Castelo dos Devas, encolhido, só de calça jeans e camiseta, descalço, revezando a ponta do pé que apoiava no chão de cada vez. Êta aula que não acabava nunca...! Não me perguntem o que estava sendo ensinado pois não me lembro de uma palavra. Lá pelas tantas, Tia chamou do radar:

- João?

- Estou aqui Tia. Posso ir embora?

- Ainda não!

E o frio aumentando. Já me arrependia de ter recusado a oferta do Seu Mário, quando Tia chamou novamente:

- João, cadê você?

Não respondi. Estava cochilando. Alguns mestres disseram que “está ali encolhido” e ela me liberou:

- Pode ir agora, meu filho.

Ia saindo do Templo ligeiro (... e se ela mudasse de idéia??) quando Tia começou a contar para a platéia o que tinha me acontecido. Quando riram, eu já estava entrando no fusca e ligando o som, bem alto. A volta foi ouvindo Deep Pourple para não dormir no volante. Depois, muito depois, ela me disse que:

• Me elogiaram muito naquele dia e o banho no córrego foi para eu não ficar muito convencido;

• Os bônus adquiridos naquele trabalho permitiram que ela fizesse outro trabalho, enquanto me deixava esperando no templo, barganhando com um cobrador que me tocaiava na estrada para um terrível reajuste, assim permitindo que eu passasse em paz.

Mais na frente, fui consagrado Comandante Adjunto Regente, junto com Dias, José Donato e outros mestres cujos nomes dos Ministros também começam com a letra “O”, um indicativo daquela nossa honrosa classificação. Comandar a Estrela Candente não é como comandar qualquer outro trabalho no Amanhecer. Ali, a vida e a morte se encontram. Espíritos são desintegrados e tudo que foram um dia desaparece, a energia que os formou sendo distribuída para os necessitados, nos hospitais, nos leitos de dor. É a lembrança que nos restou do fim da era dos Equitumans e da vaidade que os perdeu. É a cabala que para a guerra e nos faz refletir sobre quem fomos, quem somos e quem precisamos ser, sem permitir que outro Numara nos leve à destruição em uma noite enluarada de Anodaê.

- “SE TODOS OS MESTRES DESTE AMANHECER FIZESSEM UMA ESCALADA POR MÊS, NÓS ESTARIAMOS FLUTUANDO!” (Tia Neiva)

Salve Deus!

6 Comentários

Comente com amor! Construa, não destrua! Críticas assim serão sempre bem vindas.

  1. Salve Deus!

    Sempre nos surpreendendo com estes pequenos relatos. Não há palavras com as quais possa lhe agradecer cada riso emitido e o sorriso que não vence de se desfazer. Um tempo que não tive o privilégio de viver, mas que se torna vivo no desenrolar de cada linha. Como não me sentir bem diante de tanta simplicidade redigida? Sempre me pergunto sobre o efeito que sua iniciativa em compartilhar tais pérolas, mestre Kazagrande, proporciona a cada um dos que por aqui passam.
    Como um verdadeiro trabalho espiritual, renovando nossas esperanças e fé neste mundo encantado chamado Vale do Amanhecer.

    Obrigado mais uma vez.

    ResponderExcluir
  2. Salve Deus!

    Meus mestres, só Jesus lhes abençoa por tantas grandezas.

    Graças a Deus!

    Muito feliz,

    Adj Hitupan - Mestre Hugo

    ResponderExcluir
  3. Salve Deus Mestre,
    Fico muito grato a Pai Seta, por termos um mestre que nos passa muito ensinamento, que ja viveu ao lado da Clarividente, isto nos deixa em previlegio.Parabéns, olha gostaria de saber o porque das Três puxadas na estrela candente, e somente uma elevação.qual o significado de cada puxada.
    Salve Deus!
    por favor me envie por e-mail

    agentechaves@yahoo.com.br

    ResponderExcluir
  4. Só Hoje dia 30/11/2011 que vi este texto
    mais valeu a pena para eu refletir
    sobre tudo nessa grandiosa missão
    do Mestre Jaguar...
    Sauve Deus!

    ResponderExcluir
  5. SALVE DEUS! COMO DISSE ME UM PAI...AMIGO...E JAGUAR..."UM PEIXE NÃO VIVE FORA D,AGUA" “SE TODOS OS MESTRES DESTE AMANHECER FIZESSEM UMA ESCALADA POR MÊS, NÓS ESTARIAMOS FLUTUANDO!” (Tia Neiva) HOJE SEI QUE MUITOS SÃO LIMITADOS PELA DISTÂNCIA ...OU CONDIÇÃO MATERIAL ...SEM A PRETENÇÃO..( (MERECIMENTO)...POIS UMA CABALA GRANDIOSA...UM PEDACINHO DO CEÙ....POIS SEI COMO É GRANDIOSA A ENERGIA MANTIDA POR UMA ESCALDA MÊS...E VIVER A MISSÃO DO CAVALEIRO JANATÃ...AQUELES QUE PODEM E VIVEM EM AREA TEMPLATICA DEVEM COM AMOR, VIBRAR E CONTRIBUIR DE FORMA ATIVA PARA REALIZAÇÃO DAS 3 CONSAGRAÇÕES DESSE PRECIOSO PODER NA TERRA.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente com amor! Construa, não destrua! Críticas assim serão sempre bem vindas.

Postagem Anterior Próxima Postagem