Desprendi-me dos afazeres e fui ao meu “trono”, como chamava o meu canto embaixo do pequizeiro e lá comecei a pensar nos reajustes a que fui submetida. Me transportei ao Tibet onde meu mestre Umahan me esperava. Não era muito do meu gosto aquela sala ou aquele Palácio de Lhasa. Preferia suas lições no meu corpo, ou melhor, ele se desdobrando e vindo até mim. Porém senti e fui saindo, quando senti que estava no salão ao seu lado. Ele estava sentado entre dois candelabros fincados no chão. “Neiva, me disse, Salve Deus! Venha filha, sei o quanto está sofrendo! Porém serás em Deus muito feliz!” Estou infeliz. Querem que eu adivinhe. Jogam agulhas no chão escuro para eu achar e apanhá-las. Sim, eu acho as agulhas, porém uma coisa me entristece: é sinal de que eles não acreditam em mim. “Salve Deus Neiva, Salve Deus Neiva! Precisas distinguir entre o verdadeiro e o falso, deves aprender a ser verdadeira em tudo, em pensamento, palavras e ação. Por mais sábia que sejas, um dia, ainda terás muito que aprender. Todo conhecimento é útil e dia virá em que possuirás muito, amor e sabedoria, e tudo se manifestará em ti. Entre o bem e o mal, o ocultismo não admite transigência; custe o que custar é preciso fazer o bem e evitar o mal. Teu corpo Astral-Mental se aprazerá em se imaginar, orgulhosamente separado do físico”. Eu ouvia como se estivesse distante dali. Ele me observou dizendo: “Neiva! Gostas de pensar em ti mesma. Seta Branca está incessantemente vigilante, sob pena de vires a falir. Mesmo quando houveres te desviado das coisas mundanas, ainda precisa meditar fazendo conjecturas. Jesus nos adverte: Antes de culpar o teu vizinho, porque não ser sincera contigo mesmo?”
A tua vidência é algo sem limite, tens tudo para fazer o bem e o mal. Se fizeres o mal te destruirás e se fizeres o bem crescerás como a rama selvagem. Não te esqueças também, que acima de tudo, estás aqui para aprender e para guardar segredo, mesmo fazendo mistério das tuas revelações. Esforça-te por averiguar o que vale a pena ser tido. Lembra-te que não se deve julgar uma coisa pelo seu tamanho. Uma coisa pequena, muitas vezes, tem maior sentido. Não deves acolher um pensamento somente porque existe nas escrituras durante Séculos. Deves fazer distinção entre o que é útil ou inútil. Alimentar os pobres é boa ação; porém alimentar almas é ainda mais nobre e útil do que alimentar os corpos de quem quer que seja. O rico pode alimentar o corpo, porém somente os que possuem o conhecimento espiritual de Deus, poderão alimentar as suas almas. Quem tem o conhecimento tem o dever de ensinar aos outros. A tua responsabilidade Neiva, será a maior do mundo. Nunca poderás dizer tudo e não poderá, também, se calar. Dizendo tudo isso, começou a contar este exemplo: “Eu era muito jovem quando me enclausurei neste mosteiro. Porém, antes de entrar aqui tive grandes experiências, e eis o que vi: Houve um tempo em que a Índia era o ponto principal para revelações. Vinha de muito longe curiosos, romeiros, magos e videntes e viviam por lá a espreita das oportunidades para suas alucinações. E uma destas aconteceu com a família de um lorde que veio da Inglaterra, para saber do destino de seu filho recém nascido. O mestre que o atendeu estava de saída. Os seus companheiros já o estavam esperando na célebre porteira, para assim cada um ter designada a sua direção. O fidalgo insistiu, e então o mestre contou, sem amor, o que via no destino do menino: disse que o filho dele teria um mau destino e deu todo o roteiro de sua vida: em tal tempo acontecerá isto, em tal tempo será assim. O fidalgo saiu dali em desespero; o seu filho que até então era a sua alegria, passou a ser a própria sentença. Daí por diante não fez outra coisa senão sofrer, a espera dos acontecimentos, por toda a sua vida. Porém nada aconteceu; o jovem foi feliz, casou-se e nada de mal lhe aconteceu”.

Quanto ao fidalgo seu pai, ele amargurou toda a sua vida. As suas vibrações, não preciso dizer, destruíram o impensado mestre. Ninguém tem a intenção de magoar ninguém. Porém o pecado da palavra impensada de um mestre ou clarividente é algo muito sério. Neiva veja sempre em sua frente um fidalgo, o homem que sofreu a conseqüência do seu orgulho. Porém nunca faça como o impensado mestre, nunca participe com alguém. Serás antes de tudo uma psicanalista. É bem melhor que as pessoas saiam de perto de ti te desacreditando, do que desacreditando de si mesmas. Volte para o teu corpo filha, e vá enfrentar as feras, como dizes. Porém saiba que todas são melhores que tu, elas não tem um ideal como tu, elas sofrem pelo teu incontrolável temperamento”. Me julgam com se eu fosse uma... porque sou motorista. Agora para ti tudo é bom no caminho da evolução, e dizendo isso, se fixou, e eu me senti em casa. Fiquei meditando sobre as coisas que ouvira. Uma das coisas que Umahan me disse e me impressionou: “Os corpos se deslocam para realizarem as curas; o serviço é a chama que lhes define a vida e clareia a estrada. Os que se acolhem nas sombras, entre eles encontrarás os que julgam. Sim, os infelizes que na terra só souberam julgar os seus irmãos cativos da ignorância e do ódio”. Ô meu Deus!, é impossível uma mudança tão atroz, porém, não obstante, aos meus protestos e minha incompreensão inicial, eu estava me evoluindo dia a dia. Tinha uma lição em cada canto, ia aprendendo a iluminar nas sombras, sempre a explicar que quem ama na Lei do Auxílio está imune a qualquer tragédia de dor. Não tinha grandes conhecimentos da Lei do Carma e sofri então a primeira decepção. Certo dia, eu estava muito atarefada, quando uma bonita e jovem senhora, me pediu pelo amor de Deus, que eu internasse quatro filhos seus e mais dois sobrinhos, por conseguinte seis crianças. Vendo uma mãe oferecer seus filhos, na minha inexperiência, era algo muito sério. Apesar da habitual intransigência de Mãe Neném, fiquei com os meninos e a mulher se foi. Acostumada a fazer os meus cálculos, pensei. 
Tudo dará certo, organizarei melhor minha fábrica de farinha e tudo seguirá realmente o curso normal. Nessa noite, na madrugada, vi uma rica passagem no plano espiritual. Via a linda Isadora se envenenando com o conteúdo de um grande anel no qual guardava veneno, com o qual tinha envenenado a minutos. Sabia que Isadora estava encarnada em uma daquelas mocinhas que me enchiam de cuidados. Porém aconteceu o inevitável, Isadora, atualmente “Nair”, ficou tomando conta da casa de farinha, e eu, ocupada onde estava não tirava os olhos da menina. Mesmo assim ela enfiou a mão por baixo da engrenagem, para puxar a massa da mandioca, e moeu os dedos da mão! Foi horrível e eu me desesperei. De repente chegou um carro com um senhor, que há muitos dias não aparecia na UESB e esse senhor era uma de suas vítimas do passado. Tudo aconteceu de repente. Como apareceram as pessoas, assim se foram, em demanda de Anápolis cidade vizinha de maiores recursos. Eu fiquei só, só novamente, sentindo aquela sensação que certas circunstâncias da vida nos proporcionam. Pensei, pessoas que não conheço pessoas tão insignificantes para mim. Senti a morte. Tentei partir dali e sair em busca do meu mestre Humahan. Ainda com o coração partido me lembrava das pragas de Mãe Neném a dizer: “Cruz credo, para que estas crianças, nesta situação tão precária, nesta serra!” Sim ela tinha razão, porém, quem nos entregara aquelas crianças? Com amargura no coração cheguei ao Palácio Grená, onde o meu querido mestre me esperava. Quando o vi senti o meu coração palpitar de emoção. Desta vez era diferente. Meu querido velhinho, meu amor, estou só, estou sozinha, me ajude! Fui inventar uma fábrica de farinha de mandioca e aleijei uma menina! “Não blasfemes, não permito que digas assim. Destes apenas uma oportunidade a Isadora para se reajustar ao lado de quem fez tanto mal”.

1 Comentários

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  1. ...Nunca poderás dizer tudo e não poderá, também, se calar. ... Estas palavras do mestre Umahan, como não dizer tudo, e não poder calar como deve ser, vejo como um enigma. Muitas vezes vemos médiuns, atender pacientes nos tronos, que sabemos estar praticando algo que não é permitido dentro da doutrina, como exemplo o uso de álcool. Todos têm o livre arbítrio, e quando o paciente questiona, se os jaguares podem beber. Pro paciente a resposta, é confirmar que não devemos. Mestre o que fazer nesta hora como usar os ensinamentos de Umahan, falar pro regente do templo ou calar. Sofremos por saber de situações constrangedoras como estas e não saber o que fazer. Salve Deus.

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