Não, a Doutrina do Vale do Amanhecer, embora tenha elementos do Kardecismo, não é em absoluto a mesma coisa.

Conceituar é indicar o sentido ou dizer o porquê de alguma coisa. Assim, falar de Kardecismo é referir-se ao Espiritismo como Doutrina, uma vez que esse conjunto de princípios foi passado a Kardec pelos Espíritos.

Allan Kardec, nascido em Lyon, França, a 3 de outubro de 1804, filho de pai juiz e mãe professora, e que estudou em Yverdun, Suíça, com o educador Henri Pestalozzi, é o codificador da Doutrina dos Espíritos - o Espiritismo.

Depois de longo período triste da Idade Média, em que era proibido pensar e - mais do que isso - externar o que não fosse ao agrado da Igreja de então, novas luzes se acenderam para a humanidade, os chamados "fenômenos espíritas" deixaram de ser objeto de curiosidade, temor ou gracejo, passando a ser estudados com seriedade e respondendo a todas as questões do ser humano.

Com as cinco obras básicas do Espiritismo - "O Livro dos Espíritos" (filosofia), "O Livro dos Médiuns" (ciência), "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (moral evangélica), "O Céu e o Inferno" (sobre a justiça divina) e "A Gênese" (analisando a Terra e o Universo, assim como os milagres e os predições), - a que chamamos de pentateuco kardequiano, trabalhos que foram escritos entre 1857 e 1865, além de inúmeros outros, Kardec estabeleceu a Doutrina dos Espíritos ou o Espiritismo Cristão. Sucumbiram os dogmas seculares que têm atrasado a caminhada da humanidade em busca da verdade, da luz, do esclarecimento, porque, dotados por Deus - causa primária de tudo - do livre arbítrio, somos todos capazes de fazer nosso destino, ultrapassando os obstáculos e os sofrimentos, vida após vida, desde que modifiquemos o nosso comportamento e persistamos na prática do bem.

Já o movimento doutrinário e religioso, conhecido como “Vale do Amanhecer”, tem dois aspectos distintos, duas maneiras de ser visto: a primeira, é em sua origem remota, o caminho percorrido pelos espíritos que o compõem; a das circunstâncias que presidiram sua formação atual.

Em primeira instância, trata-se de um grupo de espíritos veteranos deste planeta, todos com 19 ou mais encarnações, juramentados ao Cristo e que se especializaram no trabalho de socorro, em períodos de confusão e insegurança. Tais situações surgem, sempre, no fim dos ciclos civilizatórios, quando a Humanidade passa de uma fase planetária para a seguinte. Esses ciclos, embora variáveis em termos de contagem do tempo, se apresentam à visão intelectual da História como tendo mais ou menos 2.000 anos. A cada dois milênios termina uma etapa e começa outra. Porém, por alguns séculos, as duas fases coexistem. Podemos tomar, como exemplo, o período que antecedeu o nascimento de Jesus e os três ou quatro séculos que se seguiram. Um exame acurado dos acontecimentos históricos registrados explica essa mistura de duas etapas.

O mesmo está acontecendo em nossa época, desde o Século XVIII, em que o mundo como que explodiu em fantásticas conquistas sócio-econômicas, ao mesmo tempo em que começou a declinar no que poderia se chamar de “humanismo”. Esse fenômeno é particularmente verificável nesta segunda metade do Século XX, no qual as conquistas científicas, por exemplo, coexistem com a desvalorização progressiva do ser humano. A característica de nossa civilização atual é de descrença e desesperança nas instituições, nos marcos civilizatórios que regem nossas atitudes.

Num paradoxo aparente, essa “morte civilizatória” produz na mente do Homem a ansiedade por bases mentais mais firmes, mais calcadas na imortalidade da civilização. A descrença nas instituições regentes leva à busca de instituições mais biológicas, seguras, mais transcendentais. Isso pode ser facilmente percebido pela procura atual de soluções religiosas e de novas formas do encontro com o espírito.

Atender a essa necessidade é exatamente a finalidade e a missão desse grupo de espíritos que aparecem sob a égide do “Vale do Amanhecer”.

Sua missão é oferecer ao Homem angustiado e inseguro uma explicação de si mesmo e um roteiro para sua vida imediata.

Para que isso fosse possível, e a missão cumprida com autenticidade, o trabalho não poderia ser feito seguindo-se as velhas fórmulas de religiosidade, considerando-se “velhas fórmulas” os documentos escritos, as revelações de iluminados, de profetas, das tradições, das doutrinas secretas e da dogmática de modo geral, empregada na base da fé e do medo.

O Homem só adquire segurança quando o equacionamento de sua vida se apresenta verificável, para ele individualmente, qualquer que seja sua posição sócio-econômica. Se num primeiro momento as instituições lhe oferecem proteção e segurança, isso logo se desfaz na vivência dentro das mesmas, quando seu próprio juízo entra em contradição com elas. Nesse ponto, ele poderá não se afastar, por medo ou por falta de algo melhor, mas sempre, inevitavelmente, ele viverá em angústia.

Por esse motivo fundamental, o movimento “Vale do Amanhecer” foi calcado na existência de um espírito clarividente, cujas afirmações e ensinamentos pudessem ser testados e verificados, individualmente, pela experiência de cada participante, sem jamais dar margens a dúvidas ou incertezas.

Essa é a origem atual do Vale do Amanhecer, ou seja, a existência da Clarividência de Tia Neiva.

Em 1959, ela era uma cidadã comum, embora com traços de personalidade incomum. Viúva, com quatro filhos, dedicou-se à estranha profissão, para uma mulher, de motorista, dirigindo seu próprio caminhão e competindo com outros profissionais. Sem nenhuma tendência religiosa, nunca, até 1959, quando completou 33 anos de idade, revelou propósitos de liderança de espécie alguma.

A partir dessa data, começaram a suceder, com ela, estranhos fenômenos na área do paranormal, da percepção extrasensorial, para os quais nem a ciência nem a religião locais forneceram explicação. O único amparo razoável foi encontrado na área do espiritismo, uma vez que as manifestações se pareciam com a fenomenologia habitual dessa doutrina.

Os problemas foram se acentuando contra a sua vontade, e o acanhamento das concepções doutrinárias que a cercavam a levaram a uma inevitável solidão. Não havia realmente quem a entendesse, e isso a obrigou à aceitação das manifestações de sua clarividência. Incompreendida pelos Homens, ela teve que se voltar para o que lhe diziam os espíritos. Só neles ela começou a encontrar a coerência necessária para não perder o juízo e ter se tornado apenas mais uma doida a ser internada. A partir daí ela deixou de obedecer aos “entendidos” e se tornou dócil às instruções dos seres, invisíveis aos olhos comuns, mas para ela não só visíveis como também audíveis.

Desde então, ela teve que abandonar parcialmente sua vida profissional e se dedicar à implantação do sistema que hoje se chama Vale do Amanhecer. A primeira fase foi de adaptação e aprendizado, embora, desde o começo, seu fenômeno obrigasse a uma atitude prática de prestação de serviços. Isso garantiu, sempre, a autenticidade da Doutrina do Amanhecer, desde seus primórdios. Tudo o que foi e é recebido dos planos espirituais se traduz em aplicações imediatas e é testado na prática.

Logo que Neiva dominou a técnica do transporte consciente, isto é, a capacidade de sair do corpo conscientemente, deixá-lo em estado de suspensão, semelhante ao sono natural, e se deslocar em outros planos vibratórios, ela começou seu aprendizado iniciático.

O transporte é um fenômeno natural – todos os seres humanos o fazem quando dormem – mas o que há de diferente na clarividência de Tia Neiva é o registro claro do que acontece, durante o fenômeno, na sua consciência normal. Todos nos transportamos durante o sono, mas as coisas que vemos ou fazemos só irão se traduzir na ação em nossas vidas inconscientemente, ou seja, nós não sabemos que fazemos coisas em nossa vida com base nesse fenômeno.

Nesse período, que durou de 1959 até 1964, ela se deslocava diariamente até o Tibete e lá recebia as instruções iniciáticas de um mestre tibetano. Esse mestre, que ainda está vivo, chama-se, traduzido em nossa linguagem, HUMAHÃ. Dadas as condições específicas que isso exigia de seu organismo físico, ela contraiu uma deficiência respiratória que, em 1963, a levou quase em estado de coma para um sanatório de tuberculosos, em Belo Horizonte.

Três meses depois, ela teve alta e deu prosseguimento à sua missão, embora portadora de menor área respiratória, que limita sua vida física até hoje.

Esse, entretanto, é apenas um aspecto das manifestações de sua clarividência. Ela se transporta para vários planos, toma conhecimento do passado remoto dela e do grupo espiritual a que pertence, recebe instruções de Seta Branca e de seus Ministros e as transmite praticamente para as ações do grupo. A comunidade da Serra do Ouro chamava-se “União Espiritualista Seta Branca” (UESB).

Na UESB, no plano físico, o que existia era, apenas, um grupo de médiuns atendendo a pessoas doentes e angustiadas, tendo sempre à frente a figura de Tia Neiva. Havia um templo iniciático e algumas construções rústicas, tudo feito em madeira e palha.

Existia e existem, pois, dois aspectos distintos, que é preciso compreender para explicar o atual fenômeno “Vale do Amanhecer”: o humano, como grupamento de pessoas dedicadas à assistência espiritual a outras pessoas, mediante as normas trazidas pela Clarividente Neiva do plano espiritual; e essas mesmas normas, que foram constituindo a Doutrina, ou seja, um conjunto doutrinário.

Na proporção em que o conjunto humano cresce, ele aumenta seu poder de obtenção, controle e manipulação de energias, ou seja, sua força cresce e amplia sua base doutrinária. Por isso a Doutrina do Amanhecer apresenta um aspecto dinâmico, de contínua construção, que se adapta, a cada momento, às necessidades dos seres humanos que são atendidos. Todas as instruções para as atitudes, construções, rituais e planos de trabalho continuam vindo por intermédio de Tia Neiva.

Atualmente com o desencarne da Clarividente, formou-se um novo processo de instruções, entretanto, totalmente baseado no que ela nos deixou.

Adjunto Anavo

3 Comentários

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  1. Mestre adjunto Anavo,
    Sou fã do seu blog e sempre o acompanho.`
    Por isso, se me permirit meu irmão, gostaria de fazer duas colocações no seu texto, que está resumidamente encrível!
    Fica a dica... no trecho que vc se refere ao "sistema Vale do Amanhecer".. acho que ficaria mais preciso se fosse "sistema doutrina do amanhecer" - apenas uma sugestão; e no trecho que fala do Mestre tibetano, Humarã, vc coloca como se ele estivesse vivo ainda... e há relatos do acervo da nossa mãe, que ela mesma escreveu cartas/poemas como se estivesse se despedindo dele... e tbm, atualmente acredito que ele não esteja mais entre nós fisicamente..rsrs.
    É isso, acho que esse seu texto está encrível!

    Um irmão, um ajanã, que o admira!
    Forte abraço!

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  2. Meu médico de cura é o doutor Alan Kardec, no dia que emplaquei, uma ninfa e um mestre também emplacaram com esse mesmo doutor, e conheço outro mestre que também trabalha com Alan Kardec. Mas mesmo assim, mestres de outros vales, de outras cidades me falaram que Alan Kardec era do espiritismo e que não atua no vale do amanhecer. Você pode me dizer se Alan Kardec faz parte também de um dos médicos de cura da doutrina? Ainda fico em dúvida.
    Ninfa lua emplacada.

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  3. Salve Deus Mestre Kazagrande, belo trabalho. mas para deixar registrado, boa parte desse texto deriva dos textos do Mestre Tumuchy.

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